quinta-feira, 30 de maio de 2013

O momento do nascimento é determinante para toda a vida do ser humano ?

Muita coisa a se pensar após ler essa publicação.
Estou de acordo com Michel Odent, principalmente depois que fui mãe e depois de vivenciar por mais de  10 anos nascimentos de filhos de amigos, de  criança na familia e de mães atendidas por mim!
Vale a reflexão!


Período primal determina saúde dos indivíduos
Publicada em 30/03/2012
Filipe Leonel

“A saúde de cada indivíduo é formada durante a sua vida intrauterina, mas sua capacidade de amar é determinada no momento do nascimento”. Foi com essa afirmativa, e questionando qual o futuro de uma sociedade na qual a maioria dos bebês nasce por cesárea, que o fundador do Primal Health Research Centre, em Londres, Michel Odent, conduziu o Centro de Estudos da ENSP dessa quarta-feira (28/3). Odent, que foi pioneiro nos anos setenta da tese da humanização do parto, destacou sua importância e classificou como ‘hormônio do amor’ a ocitocina liberada durante o parto normal por sua capacidade de aproximar mãe e filho.

O áudio de toda a palestra pode ser acessado na Biblioteca Multimídia da ENSP.
http://www4.ensp.fiocruz.br/biblioteca/home/exibedetalhesBiblioteca.cfm?ID=14347&tipo=B

O médico, que veio a convite do grupo Nascer no Brasil, falou para um auditório lotado sobre o tema Saúde primal: da concepção até o primeiro ano de vida. Ao apresentá-lo, a coordenadora da mesa, a pesquisadora Maria do Carmo Leal, disse ser de extrema importância sua discussão no Brasil, tendo em vista que as cesáreas ocorrem com cerca de 90% das mulheres que usam o Sistema Único de Saúde e que vários aspectos presentes em nossa sociedade podem ser influenciados pela alta prevalência desse procedimento.

De acordo com o palestrante, a pesquisa em saúde primal pode ser apresentada como um ramo da epidemiologia que inclui todos os estudos que exploram as correlações entre tudo aquilo que acontece no início da vida humana e no decorrer do seu desenvolvimento. Para isso, entretanto, é necessário definir o que é o início da vida. “Em nosso vocabulário, o início da vida é o período primal, ou seja, aquele que inclui a vida fetal, o período do nascimento e o primeiro ano de idade do bebê”, explicou.

Em seguida, apresentou um banco de dados em saúde primal disponível na internet para acesso a pesquisas sobre o tema. A ferramenta, segundo ele, traz uma série de trabalhos e instrumentos que destacam a importância de os profissionais de saúde que trabalham com a gestação pensarem a longo prazo. Para exemplificar sua fala, citou a cesariana como uma operação fácil, rápida, segura e que pode ser feita em 20 minutos, com perda sanguínea equivalente à do parto vaginal e com um custo mais efetivo. “Se somente esses critérios fossem considerados para avaliar as práticas de obstetrícia e parteria, por que não aconselhar todas as mulheres a darem a luz via cesariana?”, questionou.

O momento do nascimento determina toda a vida do ser humano

Em resposta a sua própria pergunta, disse que a sociedade necessita de outras considerações e deve treinar suas mentes para o pensamento de longo prazo. “Todo profissional envolvido no parto, por motivos óbvios, só pensa em curto prazo. Quando um bebê nasce, a parteira não pensa nos riscos que ele pode ter ao longo de sua vida. Logo, precisamos de critérios para pensarmos nessas situações e modificarmos essa forma de pensar. O banco de dados traz uma variedade de estudos públicos e muitas publicações científicas, que, por sua vez, trazem uma visão geral do assunto”.

Para Odent, o momento do nascimento é determinante para toda a vida do ser humano. Traços da personalidade, autismo, comportamento autodestrutivo, risco de suicídio na adolescência e criminalidade juvenil estão relacionados à capacidade de amar e se comunicar dos indivíduos, segundo ele. Por outro lado, as patologias relacionadas ao metabolismo humano, como diabetes, obesidade e prevalência de doenças coronarianas, por exemplo, estão relacionadas à vida intrauterina do indivíduo. “Me parece que a nossa saúde é formada na nossa vida intrauterina. Isso já está claro para nós hoje em dia. Por outro lado, a nossa capacidade de amar é determinada durante o período do nascimento".

Ainda de acordo com o palestrante, quando a capacidade de amar está relacionada aos humanos sua dimensão é maior. “Nós pertencemos a diversas culturas. Quando a mulher está grávida e sabe que está esperando o bebê, ela pode antecipar seu comportamento materno. Quando há alguma perturbação no nascimento de um mamífero não humano, por exemplo, os efeitos são logo detectados para cada indivíduo. A mãe perde o interesse pelo bebê. Pesquisas demonstram que as mães macacas que dão à luz por cesárea não cuidam dos bebês”.

Já no final de sua palestra, Odent disse que o contexto atual de interação entre os fatores genéticos e o ambiente pode levar a uma nova classificação de doenças. Além disso, também se referiu às transformações que as mudanças da sociedade podem trazer ao nosso corpo.

“O número de mulheres que dão à luz somente com ajuda de seu próprio sistema ocitocínico está se tornando insignificante. A vida de uma mulher moderna muitas vezes a leva a diminuir o aleitamento. Uma função que se torna cada vez menos útil vai se enfraquecendo de geração em geração. Não posso imaginar uma pergunta mais importante para aqueles interessados no futuro da humanidade do que esta: qual será a evolução do sistema ocitocínico humano?”.