quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Chupetas



FERNANDA BASSETTE(DA REPORTAGEM LOCAL) /FOLHA DE SÃO PAULO 04/08/09


O tempo médio de aleitamento materno exclusivo no Brasil passou de 23,4 dias para 54,1 dias em nove anos, aponta a 2ª Pesquisa de Prevalência do Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras realizada pelo Ministério da Saúde e divulgada ontem durante a Semana Mundial de Amamentação.
O aleitamento não exclusivo também subiu, de 296 dias para 342 dias entre 1999 e 2008.
Apesar dos avanços, o país ainda está longe de atingir os indicadores adequados. A Organização Mundial da Saúde preconiza o aleitamento exclusivo até os seis meses de vida (180 dias) e o aleitamento parcial até os dois anos (730 dias).
A pesquisa foi realizada com entrevistas a mães nas capitais e mais 239 municípios em outubro de 2008, durante a Campanha Nacional de Vacinação. Os resultados consideram dados de cerca de 118 mil bebês.
O levantamento também registrou uma redução de 15% no uso da chupeta em crianças com menos de um ano, passando de 57,7% para 42,6%.
Além disso, pela primeira vez a pesquisa avaliou o uso da mamadeira -adotada por 58,4% das crianças. A maior frequência foi no Sudeste (63,8%) e a menor, no Norte (50%).

Aleitamento e chupeta
A pesquisa comprovou a relação entre chupeta e tempo de amamentação. Estados com índices maiores de aleitamento têm uso menor do acessório.
O Ministério da Saúde desestimula o uso da chupeta e da mamadeira e recomenda a opção por copo após os seis meses para não interferir na sucção.
Macapá possui a maior duração do aleitamento parcial (601,36 dias). E é a capital com menor percentual de bebês usando chupeta: apenas 19,8%.
São Paulo tem o menor tempo médio de amamentação parcial (292,82 dias), e 51,2% dos bebês usam chupeta. Porto Alegre está logo atrás no quesito amamentação parcial (299,82 dias) e ocupa o topo do ranking do acessório (59,5%).
A pediatra Elsa Giugliani, coordenadora da área técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, comemora os resultados, mas reconhece que há muito a fazer para que o Brasil alcance o padrão estabelecido para a amamentação.
Segundo Giugliani, a OMS considera "bom" o indicador de um país que tenha ao menos 80% das crianças com menos de seis meses em amamentação exclusiva -o Brasil tem 41% dos bebês nessas condições.
Com relação ao uso da chupeta, Giugliani afirma que a redução é um avanço. "Nascem quase três milhões de bebês por ano. Quase 400 mil deixaram de usar a chupeta."
Para a pediatra, a estratégia do Ministério da Saúde para aumentar o tempo de amamentação é investir na implantação total da Rede Amamenta Brasil, criada no ano passado e que tem como objetivo capacitar profissionais para auxiliar as mães durante o aleitamento. "Faltava uma política de aleitamento nas unidades básicas de saúde, onde efetivamente as mães são acompanhadas."
Roseli Sarni, pediatra, nutróloga e presidente do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Pediatria, considera os dados animadores, mesmo longe das metas.
"Todo dado positivo sobre aleitamento é recebido com bons olhos. O desafio é descobrir por que as mães deixam de amamentar tão cedo e conscientizá-las", diz.
A enfermeira Maria Fernanda Dornaus, coordenadora de enfermagem da Unidade Neonatal do hospital Albert Einstein, concorda que o apoio às mães nos primeiros dias de amamentação é fundamental para melhorar os índices.
"A mãe precisa saber que o leite materno é fundamental para o desenvolvimento e crescimento da criança e que ele tem fatores imunológicos que protegem o bebê. Ela também precisa aprender como é feita a pega e a sucção. E os profissionais de saúde têm essa função."