terça-feira, 30 de março de 2010

A alimentação correta nos 1os meses de vida,pode evitar a obesidade

Li essa reportagem e gostei bastante !
"De MULHER para MULHER: Francine Lima (Repórter de ÉPOCA, escreve às quintas-feiras sobre a busca da boa forma física)



"Numa recente reunião de família, uma prima mais velha comentava os conselhos alimentares que ela tinha ouvido da minha mãe décadas atrás, antes de eu existir. Segundo minha prima, aquela que me trouxe ao mundo era, nos anos 70, uma mocinha bonita e muito vaidosa, criada em uma cidadezinha modesta no interior do estado de São Paulo e recém chegada à capital, cheia de discursos sobre alimentação saudável, cuidados naturebas com o cabelo e palpites do gênero. Minha prima, filha da cidade grande, se admirava da suposta sabedoria da namorada do tio dela. Ao ouvir essa história, ri de mim mesma. Não, esta colunista não é obra do acaso. Tive mesmo a quem puxar!

Minha mãe foi uma jovem inquieta. Largou a cidadezinha pequena determinada a fazer faculdade, tornar-se uma profissional de comunicação, conquistar independência, fazer carreira, lucrar com sua criatividade. Mas não foi bem o que aconteceu. Logo casou, arrumou um emprego estável e, sem querer, engravidou. Como tantas mulheres de sua época, ela jamais aceitaria ser somente mãe. O sonho de crescer no mercado de trabalho em pé de igualdade com os homens e de aprender sobre tudo era seu grande propósito na vida. Não poderia abandoná-lo. Como conciliar a maternidade com tamanha ambição?

O jeito foi fazer o que dava. Minha irmã, mais velha, e eu fomos amamentadas no peito por apenas três meses. Logo fomos apresentadas à mamadeira e às fórmulas infantis, uma versão de alimento bem mais prática e que podia ser fornecida pelo pai ou pela empregada enquanto a mãe trabalhava fora.

Três décadas depois, as mulheres conquistaram muito mais espaço dentro das empresas. Mas parece que ainda não conquistaram de volta o direito de amamentar. Embora a Organização Mundial de Saúde e inúmeros estudos recomendem que todo bebê seja alimentado somente com leite materno nos primeiros seis (e não três nem quatro) meses de vida, no Brasil a licença-maternidade obrigatória ainda é de quatro meses (a não ser para as funcionárias públicas federais, que segundo o Ministério da Saúde já gozam de licença de seis meses). A mãe que faz questão de seguir as recomendações médicas tem de fazer verdadeiras maluquices logísticas para continuar amamentando depois de voltar ao trabalho. O mais comum, no entanto, é que as trabalhadoras abandonem o aleitamento antes da hora.

Uma das preocupações dos pediatras em relação ao período de amamentação é a obesidade. É que, segundo diversos estudos, o leite materno é um fator de proteção do bebê contra um aumento exagerado de peso corporal depois que ele crescer. Por exemplo, um estudo realizado na Alemanha em 1999 com mais de 130 mil crianças mostrou que a prevalência de obesidade na infância era menor para as crianças que haviam mamado no peito da mãe por mais tempo. Assim: entre as crianças que nunca mamaram no peito, a prevalência de obesidade observada foi de 4,5%. Entre as que mamaram exclusivamente no peito por dois meses, a prevalência de obesidade foi de 3,8%. O índice caiu para 0,8% entre as crianças amamentadas por mais de um ano.

Também tem sido investigada a associação entre o aleitamento materno e o risco para doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2, ou seja, alguns dos males mais inimigos saúde pública no mundo atualmente.
As conclusões da ciência mudam o tempo todo. Conforme as variáveis consideradas nos estudos, as afirmações de um podem ser derrubadas por outro. Mas a recomendação de amamentar exclusivamente por pelo menos seis meses e preferivelmente até os dois anos de idade do bebê de forma não exclusiva permanece quase inalterada nas últimas décadas.

Os benefícios de seguir essa recomendação, segundo o Ministério da Saúde, são inúmeros:

"Os bebês que recebem leite materno exclusivamente estão mais protegidos contra doenças, principalmente diarréia e pneumonia. Crianças que não mamam no peito têm 25 vezes mais chance de morrer por diarréia. Com relação à pneumonia, crianças não amamentadas nos primeiros três meses de vida têm 61 vezes mais chance de serem hospitalizadas do que as crianças em aleitamento materno exclusivo. Da mesma forma, as crianças amamentadas têm menor risco de desenvolver otite e alergias. A longo prazo, as crianças que mamam exclusivamente por seis meses estão mais protegidas contra doenças crônicas como obesidade, diabetes melito tipo I, doença de Crohn e linfoma. O leite materno contém todos os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento adequados da criança, além de ser facilmente digerido. Além disso, o ato de amamentar é o primeiro momento de carinho entre mãe e filho e favorece a ligação entre os dois".
Por tudo isso, geração após geração, os pediatras procuram convencer as mães a amamentar por mais tempo. Não é uma tarefa fácil, especialmente para quem tem a agenda tomada por outras obrigações. Também não é uma responsabilidade que depende só das mães, uma vez que elas precisam da autorização de seus empregadores para cumprir com mais esse compromisso. Segundo o Ministério da Saúde, o projeto que amplia a licença-maternidade obrigatória de seis meses para todas as trabalhadoras já foi aprovado na Câmara.
A partir daí, a amamentação dependerá mesmo é da vontade das mães assalariadas - salvo em caso de problemas de saúde que as impeçam. Caberá a elas decidir se querem ou não que seus filhos cresçam saudáveis, fortes e magros. É claro que o destino metabólico das crianças não é total responsabilidade do peito materno. O código genético, a educação, o estilo de vida, tudo isso se combina para determinar como o corpo vai se desenvolver. Mas a alimentação dos filhos nos primeiros anos de vida - e até antes, na gestação -, esta sim é atribuição dos genitores.

O que o bebê mama ou deixa de mamar hoje pode fazer diferença na balança e na saúde dele 20 anos depois.
Nem todo bebê que mama pouco vai crescer obeso ou acima do peso. Eu mamei menos de seis meses e nunca fui gorda. Ao contrário, cresci magricela - o que talvez seja também um indício de uma saúde imperfeita. Não sei. É possível que o corpo humano seja capaz de malabarismos que a ciência ainda desconhece. Só sei que, se um dia tiver um filho, terei de pensar não só na minha boa forma depois da gravidez, mas na dele também.

Autor: Francine Lima - Revista Época

Data: 17/3/2010



fonte http://www.aleitamento.com/a_artigos.asp?id=3&id_artigo=2231&id_subcategoria=4

A Natureza do Sono do Bebê( Dra. Andréia Mortensen)

Recebi esse e-mail através das Amigas do peito e achei muito pertinentes as colocações da Dra Andreia.
Divido com vocês!!!


'Após a leitura do artigo "O mau sono do filho pode ser culpa dos pais", publicado no site Guia do bebê em 03/03/2010, gostaria de fazer alguns comentários.

O artigo ressaltou que a raiz de muitos problemas de sono estaria no fato de os pais auxiliarem seus bebês a adormecerem e concluiu que eles deveriam ser treinados a fazê-lo sozinhos.

Tenho algumas críticas a esse raciocínio:

PRIMEIRO, é importante entender que essa inabilidade do bebê de adormecer sozinho, sem ajuda, é de sua natureza. Antes de 2 ou 3 anos não há maturidade neurológica para tal. Então, ao 'treinar' um bebê a adormecer sozinho estamos passando por cima de sua natureza do desenvolvimento, que acontece em fases, em um aprendizado longo e complexo. A matéria parte do princípio de que é preciso condicionar os bebês a não solicitarem aconchego à noite mesmo quando tivessem necessidade, como se uma exigência para um bom sono bom seria apressar a independência do bebê.

SEGUNDO, as funções do choro, do embalo e do apego devem ser levadas em consideração.

O choro - No início da vida, o choro tem um amplo espectro de funções: bebês choram por fome, necessidade de contato físico, frustração, outras necessidades físicas e emocionais. O choro de frustração não pode ser considerado falso por não apresentar uma razão física visível. Experimentos clássicos mostraram que simplesmente pegar o bebê no colo funciona perfeitamente como uma forma de parar o choro, ainda que eles estivessem famintos (1,2). O choro atendido pelos pais tem importância fundamental para a formação de vínculos e estabelecimento do laço afetivo familiar (3).

O embalo - O bebê precisa ter confiança máxima, conforto, segurança e outros sentimentos mais complexos em quem lhe está adormecendo, que levam ao relaxamento relaxamento físico e mental. A mãe acalenta o bebê com um embalo ritmado, lento, afagos leves e ao som de uma melodia delicada e sussurrante de sua voz, e com isso o bebê se entrega e adormece. Deve-se lembrar também que embalar o bebê lhe confere estímulos sensoriais necessários ao estabelecimento do tônus muscular.

O apego - O colo e o apego, em conjunto com o embalo e a amamentação, são fatores críticos para a continuação do desenvolvimento do bebê fora do útero materno. O bebê humano nasce em desamparo e dependência quase absoluta e necessita ser visto e ouvido por sua mãe ou por outra figura de apego primário, de quem procura e espera uma relação recíproca, na qual seus próprios sentimentos iniciais são retribuídos (4). O bebê 'come amor' como se fosse comida e também a sensação de estar rodeado, contido, visto e seguro (5).

Uma criança que se agarra a um adulto não está sendo mimada nem querendo chamar atenção, mas sim está tentando reduzir o seu alto grau de excitação física e seus elevados níveis de substâncias químicas estressantes, como o cortisol e, ao mesmo tempo, tenta ativar as compostos químicos cerebrais que produzem sentimentos de bem-estar, como a ocitocina. Sua mãe é sua 'base neuroquímica' infalível.

Obrigar a criança a ser independente antes de ela estar geneticamente madura para tal é uma provável causa do surgimento de um apego prolongado, enquanto que a criança que recebeu o cuidado amoroso protetor com sua dependência natural reconhecida estará apta a aperfeiçoar suas potencialidades primitivas de crescer, integrar-se, adaptar-se às exigências do ambiente, desenvolver outras relações interpessoais, habilidades sociais, de convivência e aceitação do outro e de preservar a vida.

TERCEIRO, técnicas conhecidas como 'choro controlado' e variações em que o choro do bebê é ignorado não oferecem garantias de noites de sono ininterruptas. Tal fato foi, inclusive, revelado em uma pesquisa recente na qual, apesar de 69% dos pais acreditarem que essa técnica funcionaria, somente 1/6 dos pais disseram que ela eliminou completamente os despertares noturnos. (6)

Ainda, pesquisas revelam que quando a criança cumpre um ano, as mães que haviam atendido rapidamente o seu choro, tinham filhos que choravam muito menos que aquelas que haviam optado por deixá-los chorar (7).



QUARTO, é mito que bebês que são treinados a dormir a noite toda nunca mais acordariam. O bebê muda constantemente conforme seu desenvolvimento e isso interfere em seu sono. Então, é falaciosa a prescrição de soluções eternas para que a criança dormir a noite toda, porque sempre que há mudanças em sua vida (como entrada em escolinha ou mudança de professora, um atrito com amigo na escola, mudança para nova casa, férias, doença, saltos de desenvolvimento e outros) há provavelmente uma causa emocional para a mudança no padrão de sono. Nesses casos, é hora de direcionar todas as atenções a seu filho para que se sinta emocionalmente seguro de as boas noites de sono voltarão.

QUINTO, a pesquisa citada (publicada originalmente em 2009 na revista "Child Development") tem falhas metodológicas e erros de abordagem que não foram citados. Somente 85 famílias foram entrevistadas e isso torna a amostragem não significativa. Além disso, o texto não deixa claro qual foi a porcentagem real de casais que se adequaram às conclusões do grupo (se a margem de diferença for muito baixa, o estudo deve ser refeito com grupo de amostragem mais amplo).

Os próprios autores concluem no final do artigo que, pelo fato de os dados serem baseados em amostras não-clínicas, todas as implicações clínicas devem ser melhor examinadas adiante, em condições clinicas. Os autores ainda discutem que os dados devem ser melhor explorados em outras culturas e em amostras com mais variados status socioeconômicos para testar sua valia em ambientes que tenham diferentes expectativas, filosofias e valores em se tratando de práticas de educação dos filhos em geral e do sono dos bebês em particular.

Portanto, a abordagem dos pesquisadores passou por uma linha de pensamento que não considera diferentes culturas, crenças e individualidades. Os pesquisadores concluem que todas essas são características limitam a generalização dos resultados. Ainda mais, as associações relatadas entre o sono e cognições maternas foram baseadas em percepções subjetivas e podem ter sido influenciadas pela variância do método compartilhado.

Esses aspectos não foram incluídos no artigo que, portanto, não relatou com acuidade o que foi descrito na pesquisa.

FINALMENTE, o artigo publicado continua a oferecer problemas na parte 'Avisos' de hábitos possivelmente perniciosos ao sono.

Alimentá-lo fora do horário? Não é possível, posto que o bebê pequeno precisa mamar em livre demanda para garantir que tenha todas suas necessidades de nutrição e também de sucção não nutritiva saciados. Não há conselho mais prejudicial para o estabelecimento e continuidade da amamentação e, consequentemente, para a saúde dos bebês, do que amamentar com horários predeterminados.

O artigo condena que o bebê durma com seus pais. As conclusões do artigo não consideram bases antropológicas, culturais e tampouco fisiológicas.

O co-leito ou cama compartilhada é algo praticado desde os primórdios da raça humana. A necessidade do bebê humano de estar em contato físico com a mãe vem dos tempos em que o ambiente era perigoso e a sobrevivência dependia de contato direto com sua mãe. Somos parte dessa descendência. Além disso, a cama compartilhada é comprovadamente de auxílio para estabelecimento da amamentação e tem efeitos positivos no estabelecimento de ritmos respiratórios, na regulação de padrões de sono, da taxa metabólica, de níveis hormonais, da produção enzimática (ajudando na habilidade do bebê de lutar contra doenças), na taxa de batimentos cardíacos e no sistema imune (8, 9, 10). Pode também ajudar a atender necessidades emocionais do bebê e da criança mais facilmente, levando em consideração os picos de crescimento, a crise de ansiedade de separação que se inicia por volta dos 8 meses e outras fases que vão além do primeiro e segundo ano de vida, nas quais o contato íntimo com a mãe faz toda a diferença.

Portanto, ter um conceito previamente fechado, contrário a um arranjo de sono, pode dificultar a família a lidar com as necessidades que o bebê e a criança manifestem.

ALGUMAS RECOMENDAÇÕES QUE EU DARIA AOS PAIS SERIAM:

- Investigue em que lugar o bebê dorme melhor: na mesma cama com os pais, no berço em outro quarto, no berço no mesmo quarto porém distante da cama do casal, no berço no mesmo quarto junto à cama? E onde você dorme melhor? Finalmente, onde você gostaria que seu bebê dormisse? A gama de variações possíveis é grande, pode-se tentar alguns dos arranjos até descobrir como toda a família dorme melhor.

- Alterne maneiras de auxiliar o bebê a adormecer, nem sempre mamando (a não ser nas primeiras semanas quando é impossível manter um bebê acordado após as mamadas), nem sempre embalando, às vezes peça para papai entrar na jogada! Ao aprender que pode adormecer de várias formas, é menos provável que o bebê faça associações fortes de sono que podem levá-lo a requerê-las no meio da noite.

- Reconheça os sinais de sono do bebê: esfregar olhos, bocejar, diminuir atividades, ficar irritado, olhar parado, chorar, em alguns casos, gritar. Crie rotinas de acordo com o cansaço e a necessidade de sono da criança (que vai mudando conforme a maturidade), ou seja, uma sequência simples de eventos que ajude a criança a identificar que a hora do sono está por vir.

- As sonecas são importantíssimas para o desenvolvimento do bebê e para o sono noturno. Ao contrário do que se pode pensar, um bebê exausto luta contra o sono e tem dificuldades de permanecer adormecido. Para serem restauradoras, as sonecas diurnas devem durar pelo menos 1 hora, em média, para bebês maiores de 4 meses. Se o bebê não dorme espontaneamente esse tempo e acorda aborrecido, precisa de ajuda para prolongar as sonecas. Você pode usar um sling e deixar o bebê dormir nele. Se ele dorme em berço ou cama, preste atenção: quando acordar, tente colocá-lo para dormir novamente o mais rápido possível. Às vezes, ficar por perto para intervir antes de o bebê acordar completamente é aconselhável. Esse processo pode ser demorado, mas vale a pena, pois o bebê vai aprendendo a emendar ciclos de sono e tirar sonecas mais longas, que são importantes para um bom sono noturno também.

Dra. Andréia C. K. Mortensen



Referências

1- Wolff, P.H. 1987. The development of behavioral states and the expression of emotion in early infancy: New proposals for investigation. Chicago: University of Chicago Press. (1987).

2- Our Babies, Ourselves. How biology and Culture shape the way we parent. Meredith F. Small. Anchor Books. (1998).

3- Tocar: o Significado Humano da Pele. Ashley Montagu. Ed. Summus. (1988).

4- Bowlby, J. (1969,1982) Attachment [Vol. 1 of Attachment and Loss]. London: Hogarth Press; New York, Basic Books; Harmondsworth, UK: Penguin (1971).

5- Babies and Their Mothers : D.W. Winnicott. Merloyd Lawrence. ( 1996).

6- Lynn Loutzenhiser, Regina Leader-Post. Have you been awake all night, trying desperately to put your child back to sleep, or does your little one sleep like a baby? The study is being done in collaboration with a contributing editor to Today's Parent magazine. The survey can be found at http://uregina.ca/~loutzlyn/Research.html. (2009).

7- Margot Sunderland, The science of parenting. DK Publishing Inc. (2006).

8-J. McKenna et al., Bedsharing Promotes Breastfeeding, Pediatrics 100, no. 2: 214-219. (1997).

9- J. McKenna et al., "Sleep and Arousal Patterns of Co-Sleeping Human Mother-Infant Pairs: A Preliminary Physiological Study with Implications for the Study of the Sudden Infant Death Syndrome (SIDS)," American Journal of Physical Anthropology 82, no. 3, 331-347 (1990).

10- A Reasonable Sleep. Evolution suggests that if we sleep with our babies, we might help some of them escape sudden infant death syndrome. By Meredith F. Small DISCOVER 13:4. Medicine. (1992).