quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Minha volta ao trabalho e a amamentação


Sou autônoma há 20 anos, e quando tive meu primeiro filho, trabalhava em 2 lugares enlouquecidamente. Tinha 29 anos e uma energia enorme!
 Quando meu filhote estava próximo do 3o mes, cometi a insanidade de retornar ao trabalho, porque, a rotina da casa, me deixou desesperada  e somado a isso, queria ganhar dinheiro, ver pessoas, respirar outros ares!!
E ai, veio outro problema: Onde deixá-lo?
A avó materna ficou com ele até o 4o mes, mas depois, tive que colocá-lo numa creche e outra preocupação surgiu:  como vão alimentá-lo ? ( já que eu não queria oferecer mamadeiras).
Fui a creche,combinei com as berçaristas, ensinei a ofertar o copo,  me ordenhava igual a uma "vaca leiteira", porém, com menos de 2 semanas, me disseram ser impraticavel oferecer o leite num copo! "Tive" que ceder aos apelos da creche e por conta do uso da mamadeira, apesar de amamentá-lo na madrugada e pela manhã,  3 meses depois, ele desmamou! Naquela época, desconhecia sobre armazenamento do leite materno e por isso, tive leite  materno estocado até o 9o mês dele! Há anos, a recomendação dos bancos de leite humano, é que o leite materno seja congelado por até 15 dias. Fiquei muito triste com o desmame , porque ficávamos separados  de 7 da manhã ás 19 horas e aquele momento da mamada, era um reencontro, um repositório de energias, principalmente pra mim.
Uma pena que só enxerguei isso tarde demais!
Dez anos depois, tive uma filha, desejada ,esperada,sonhada ,ainda autônoma, trabalhando somente em 1 lugar. Combinei com o esposo de que, dessa vez, ia ver minha filhota engatinhar,sentar,andar, balbuciar.
No 4o mes, coloquei-a numa creche e fiz tudo de novo: ensinei ás berçaristas o oferecimento do copinho, ordenhava leite materno de manha, de tarde e de noite( e as vezes, na madruga). Um mês depois,estava de mudança para S.Paulo e pude ficar em casa por quase 2 anos.
O que dizer ás mães, sobre o retorno ao trabalho?
Que é perfeitamente compatível o retornar ao trabalho e continuar amamentando, mas que se a mãe puder adiar esse retorno por desejo proprio,que o faça!
Não há nada que pague acompanhar o crescimento de um filho.
Até hoje, não me perdoo pela minha pressa!
Dizem que bebês prematuros são apressados pelo resto da vida( e eu sou prematura de 8 meses)
Se posso dizer algo ás mães, é que curtam seus filhotes, enquanto puderem, que desfoquem de tudo o que não seja  sobre eles e deles .
Só depois de começar a trabalhar com amamentação, observar comportamentos, ouvir relatos, ler bastante, vi o quanto se perde  com o retorno da mãe  ao trabalho, com o filho no 4o mes. Todo mundo perde: familia, bebê, mãe e o proprio trabalho ( que tem uma mãe desfocada, preocupada, jorrando leite pela roupa, com sentimento de culpa., não rendendo muitas vezes)
E é  desconcertante ver que  a Organização Mundial de Saúde orienta amamentar exclusivamente até os 6 meses e a nossa lei trabalhista dá a mulher somente 4 meses! Embora atualmente as prefeituras concedam 1 ano de licença maternidade e algumas empresas concedam 6 meses( de forma facultativa)
O dificil não é se ordenhar em diferentes horários, nem carregar a maletinha com os leites, nem congelar leite materno, nem oferecer em copinhos,  e ensinar a oferecer, nem dormir menos porque o bebê mama na madruga.
Dificil é lidar com a pressão, ouvir que não vai dar certo, lidar com as cobranças alheias e com as nossas proprias cobranças. Dificil é ouvir:  "vou receitar esse leite que é bem parecido com o leite materno ou qual o problema de dar mamadeira? Mas ele ja tá grande pra continuar mamando... seis meses? ta de bom tamanho,depois dessa idade, o leite é só aguinha"!
Dificil é encarar  as pessoas falando de seu corpo,e mostrando artistas com corpos perfeitos após a pele ser esticada por 9 meses,  dificil é ter que se comportar como uma mulher moderna,(apesar de nem sempre estar pensando como uma) dificil é ver que criei um bebe independente,  e depois constatar que o ideal era que ele continuasse dependente até estar pronto para essa separação , difícil  é ter que fazer o papel de mulher/esposa ideal, ser perfeita em tudo, dar conta de tudo. Isso tudo,  é que dificulta continuar amamentando e voltar ao trabalho!
Porém, quando a gente deseja  firmemente manter a amamentação,  contando  com apoio(s), tendo orientações sobre como seguir adiante, 90% de chance de tudo dar certo !
Meu  filho mais velho foi amamentado exclusivamente até o  6o mês, apesar do meu retorno ao trabalho, apesar da pressões para desmamá-lo, apesar da minha pressa em viver de outra forma  e minha mais nova, com certeza, também  beberia meu leite, porque  tudo  estava muito mais organizado na minha cabeça e no meu coração!
Para que a amamentação e o retorno ao trabalho, não sejam pesarosos, a dupla mãe e bebê, precisa estar preparada. A família precisa estar organizada e a mãe precisa ser apoiada e auxiliada!

3 comentários:

  1. Estou emocionada com seu texto. Ele traduz o sentimento que tenho agora, quando retorno ao trabalho em 15 dias. É minha terceira filha e cometi meus erros com a primeira, já a segunda mal pude amamentar pois ela nasceu prematura e ficou na UTI, cirurgia, intubação, ou seja, sem sucessos.
    Nesta terceira filha estou decidida a fazer diferente, me empenhando ao máximo em manter o aleitamento o máximo de tempo que Deus assim permitir. Sim, claro, peço ajuda divina nessa hora pra que me dê forças pra continuar e desejo no coraçãozinho da pequena pra continuar desejando o peito e meu carinho!

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  2. Clau,
    seu relato é muito forte... Como é importante a gente focar nessa fase da vida dos nossos filhos, como o tempo de licença maior é mais benéfico para todos - mãe, bebê, empresa. Eu me sinto uma privilegiada por ter tido a oportunidade de ficar de licença por 1 ano e ter reduzido minha carga horária no outro emprego. A gente fica com a mente mais leve, compartilha muitas coisas com os filhos e pode amamentar bastante. Mas infelizmente não é essa a realidade da maioria das brasileiras, só que como você disse, é totalmente possível amamentar e trabalhar. Bjs e parabéns pelo relato. Acho que poderia ser o primeiro no nosso blog!

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